Eles nem sequer estão juntos agora, mas isso também não interessa nada. O que interessa é que há uma frase que ele disse há muito tempo atrás e que eu fixei. Ontem à noite não conseguia parar de pensar nisto, naquela frase, no que aquilo quer dizer e na forma como se aproxima daquilo que quero dizer. Ele nem sequer é meu amigo, mas a ex-namorada dele é, embora raramente a veja hoje em dia. Ele vivia - e talvez ainda viva - numa cidade à beira-mar e ela ia visitá-lo várias vezes. Na altura, ela estava embrenhada num projecto e precisava de estudar. Um dia, em conversa de café com os dois, sobre nada, perguntei à minha amiga “Então, vais para lá com este tempo e ficas em casa a estudar?!”. Mas foi ele que respondeu logo. “Eu gosto de vê-la a estudar, lá na minha mesa... Fico a olhar...”. Na altura, fartámo-nos de rir, a imaginá-lo assim embasbacado a olhar... Brincámos com a situação e rimo-nos todos, ele também, embora dizendo “A sério, a sério que gosto”. Disse aquilo com ar tão terno, tão meigo e infantil, e descansado que, apesar de já terem passado alguns anos, não me esqueci. É qualquer coisa próxima disto que me interessa dizer. Uma paz que não é paz, uma paz que não é interessada nem desinteressada; uma cara, um corpo que nos faz ficar a olhar. Sem darmos por isso. Sem repararmos na forma como estamos a olhar, distraídos e ausentes, ainda que muito concentrados naquele ponto específico, onde está a pessoa. Que de repente há-de reparar e nós havemos de disfarçar, esboçando uma despreocupação que é mais intensa do que isso, fingindo que não estávamos a pensar no tamanho do mundo e que, naquele momento preciso, o tamanho do mundo não tinha a forma do rosto que estávamos a ver. E rematamos com um sorriso. Disse, no início, que eles agora não estavam juntos e que isso não interessava nada. Não interessa, repito. Não porque não foi comigo e portanto não me interessa. Mas porque eles estiveram de facto juntos, em tempos, e naquele fim-de-semana, como em muitos outros, ele gostava de vê-la estudar e de ficar, assim, a olhar para ela.
terça-feira, julho 25, 2006
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