segunda-feira, dezembro 04, 2006

No outro dia, dei uma pequena festinha em casa. Uma coisa simples, uns bolos, um vinho tinto, champanhe, meia dúzia de amigos do costume que se juntaram para jantar e festejar os anos de uma pessoa especial. Estava tudo programado para que, depois da ceia (foi mais uma ceia devido a vários imprevistos), fossemos sair. Mas não. A música passou de tonalidades suaves a sons mais dançáveis e ficamos lá, enfiados numa sala cinzenta de tanto fumo, a dançar quase em surdina, até de madrugada. Nasceu o dia assim, quase em silêncio, ao som de uma Patti Smith que cantava muito baixinho para não acordar os vizinhos. Uns deitados no chão a pensar sabe-se lá em quê; outros a dançar em passinhos de lã numa pista improvisada na minha sala. Quase tínhamos que não respirar para ouvir a música. De repente, ausentei-me e pus-me a olhar para aquilo tudo. Achei que aquele silêncio vibrava de forma tão intensa, misturado com aquela cor acinzentada de uma manhã de Inverno que surgia através dos vidros embaciados da sala... Achei tão bonitas aquelas pessoas que libertavam pequenos movimentos ao som de canções quase imperceptíveis, mas que o corpo conhece de cor. Achei aquilo tudo tão sincero que me deitei no sofá e fiquei só a olhar. Apenas o Fellini dormia sossegado no meu colo, num aconchego morno, protegido do mundo como nós, feliz, dentro daquela sala.

1 comentário:

Anónimo disse...

I have a dream. I still have a dream that some days could be like this, old days, with old friends, listening old music and caring old habits. It was special*

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