sexta-feira, julho 21, 2006

Desde que mudei de casa que passo as manhãs em filas na loja do cidadão e nos correios e instituições afins de forma a poder tratar da água, da luz, do gás, da internet, etc... Normalmente sou uma pessoa calma – ou aparento – e, portanto, suporto as esperas de horas, aproveito para ler, desculpo a minha ignorância e a ignorância deles e por aí fora. Tento ser uma cidadã educada e, mesmo quando proponho algo que considero facilitar a vida a toda a gente, faço-o com a melhor das intenções. Fi-lo no outro dia na Conservatória e parece que me compreenderam mal, não sei porquê. É que nestes sítios normalmente tem que tirar-se uma senha e esperar pela vez, o que acho justo. O único problema é saber que senha tirar. Tendo em conta que na Conservatória o balcão que diz informações não serve realmente para informar, mas sim para preencher todos os papéis antes de serem entregues nos restantes balcões, o caos instala-se facilmente. No meu caso, desconhecendo tal realidade, tirei a senha que, de acordo com as minhas capacidades hermenêuticas, me pareceu mais adequada, e esperei docilmente horas e horas até ser atendida para me dizerem secamente que teria de tirar outra senha e ir para o tal balcão das informações. Nessa altura, sugeri então que no placard colocado à entrada especificassem melhor para que servia cada um dos balcões – tipo: se quer este papel, tire a senha cor-de-rosa - de forma a evitar filas e perda de tempo a toda gente. Disse-o educadamente. Disse: “Não deve levar a mal o que estou a dizer; é só uma sugestão”. Não surtiu o mínimo efeito. O único efeito que teve é que quando regressei lá tirei todas as senhas que havia de forma a assegurar da melhor forma possível a gestão do meu tempo, porque preciso mesmo dele. Gostava muito de poder dar-me ao luxo de passar horas e horas em todas estas filas, mas a verdade é que me prejudica realmente o trabalho. Hoje foi a gota de água. Ando desde Maio a tentar colocar Internet sem fios em casa. Faço um contrato, pago uma pipa de massa. O contrato vem para trás, por falta de documentação. Envio tudo de novo. Respondo a tudo a sorrir e peço desculpa por ter assinado um contrato com BI caducado. Mea culpa. Não reparei. Ficam, então, de mandar por correio o tal kit de instalação. Nunca mais chega. Ligo para lá, pergunto só se vai demorar muito. Ontem finalmente chegou. Fui hoje levantá-lo aos correios toda contente. Paguei 56 euros (ainda tentei dar 56 cêntimos ao senhor, mas afinal eram mesmo euros), fui logo para casa tentar instalá-lo. Apercebo-me de que é o kit errado, não era sem fios como eu tinha pedido. Ligo para lá do meu telemóvel, fico sem saldo porque não me conseguem responder às perguntas que coloco nem passar a chamada para quem sabe responder. Chego ao meu local de trabalho à tarde, depois de uma manhã em vão. Estou furiosa. E é tão difícil pôr-me neste estado que quando acontece não me consigo calar; a senhora da ONI esteve meia-hora a aturar-me. Não exijo que me devolvam a minha manhã de trabalho, nem que me paguem o dinheiro do telemóvel. Compreendo que se tivessem enganado no kit; eu também me engano. Não quero crucificar ninguém. A única coisa que queria era um simples pedido de desculpa, palavra que ninguém foi capaz de pronunciar espontaneamente em nenhuma das conversas! E que me dissessem afinal quanto tempo vou ter de esperar pelo novo pacote. Para o conseguir, tive que estar meia-hora ao telefone a desbravar caminho por entre ideais de respeito e de cidadania e a dizer-lhe que dispenso a linguagem de plástico usada por estes operadores, a cena do Sra Dona não sei quê, há mais alguma coisa em que posso ser útil, e blá blá blá. A questão é que eu também erro mas peço desculpa por isso. É o mínimo. A questão nem é o dinheiro, embora eu não seja rica e ele me faça falta, a questão nem é a internet em si. A questão nem sequer é a arrogância. É a cidadania, é a responsabilidade, é o profissionalismo - que nem sequer tem a ver com os erros, porque toda a gente erra. Só que não pedir desculpa não branqueia esse erro, não nos torna mais profissionais fazer de conta que esse erro não aconteceu, que os outros não têm razão. Nada branqueia o erro, nada substitui o tempo que fazemos perder às pessoas pelos nosso erros. A única coisa que se pode fazer é pedir desculpa e tentar corrigir, quando é possível. Por isso, quando prejudicamos a vida de alguém, mesmo sem querer, devemos pedir desculpa. Fiz queixa e exigi isto. Exigi ouvir a palavra "desculpa". E consegui, ainda que à força e de forma enviesada, tipo ah, sabe é que isso não é culpa minha... Eu sei que não é culpa sua, então se quiser passe-me às chefias. Alguém tem que assumir responsabilidades. Infelizmente, ninguém me passou às chefias, porque o sistema está de tal forma invertido que quem paga são os cabos rasos. Mas teve que ser da forma que foi possível ser. Porque me levantei cedo e perdi uma manhã inteira de trabalho. Para nada: para me terem mandado o kit errado, por me terem feito gastar o saldo todo do telefone - porque não conseguiam passar a chamada para onde deviam?? Uma empresa de telecomunicações??? - e não me quererem sequer pedir desculpa nem dizer quanto tempo ia demorar a vir o kit novo. Disse tanta coisa que estava entalada que acabaram por me dizer tudo o que precisava de ouvir. Não se deve a abusar da vida, do tempo e da calma das pessoas.

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