J’accuse...
O meu “livro de autocarro” é, neste momento, Acuso..., de Jean-Paul Sartre. Confesso que o género não é o meu preferido, nem tão-pouco o autor. Foi pura curiosidade, só. Gosto mais de romances, poesia, ensaios sobre literatura e poética (com tudo o que isso acarreta de político também) do que propriamente política internacional (a não ser reportagens, que gosto muito ler). Mas, agora, que descobri os prazeres dos intervalos em autocarros, escolho sempre uns livros pequenos para transportar na bolsa – sempre a abarrotar de blocos, gravador, cassetes, canetas, óculos de sol, de ver, lenços, comida, garrafas de água, telemóvel, e não sei mais o que cabe lá dentro. Pequenos livros (os mais grossos e pesados ficam na mesinha de cabeceira) que vou lendo naqueles deliciosos cinco a dez minutos de espera nas paragens... Desde que mudei de casa, há cerca de 15 dias, já li pelo menos 3 ou 4 livros no autocarro. São fininhos, é certo, mas os que li foram escolhas certeiras – Triunfo dos Porcos, Ninguém escreve ao coronel, e Uma ideia de Europa. Este último, de George Steiner, constitui, aliás, uma excepção ao que disse em cima relativamente aos meus gostos literários. Trata-se de um ensaio sobre a Europa que se consome de um só fôlego, simultaneamente teórico e poético, escrito de uma forma incrível, com ideias simples e surpreendentes. Diferenças entre o ser-se europeu e o ser-se americano nas quais nunca havia pensado e que fazem realmente sentido. Neste momento, não tenho aqui o livro, mas assim que puder transcreverei algumas passagens. (Dos outros não seria de esperar pouco, claro – Garcia Marquez é um dos meus autores preferidos e de George Orwell só posso dizer que tanto o Triunfo dos Porcos como o 1984 estão entre os meus livros de eleição). Impressionante no livro de Sartre é a forma como os discursos se mantêm, como a História é cíclica. O livro data de 1969, inclui duas entrevistas e outros tantos documentos históricos, e está assinado, no início, pela minha mãe (Manuela Silva – 76). Também ela, quando estava na faculdade em Lisboa, o leu no autocarro. A minha realidade está longe de ser igual à que a minha mãe viveu nessa altura, mas não deixa de ser curioso como as teorias se mantêm, ao longo dos tempos. Todo o discurso de Sartre fala da hegemonia dos EUA, de imperialismo e, claro – ainda que neste livro de forma mais ou menos implícita – do vazio das sociedades de consumo. É incrível, passaram 30 anos desde que a minha mãe leu o livro e nós continuamos a debitar as mesmas tretas ou ideais – depende da perspectiva - nas conversas de café. Há imensas coisas no livro que são obviamente muito datadas - nas entrevistas, tudo gira em torno do Maio de 68, da guerra do Vietname, mas... ainda assim... parece que nada mudou. Parece que, e citando o Il Gattopardo (Luchino Visconti), “é preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma”.
O meu “livro de autocarro” é, neste momento, Acuso..., de Jean-Paul Sartre. Confesso que o género não é o meu preferido, nem tão-pouco o autor. Foi pura curiosidade, só. Gosto mais de romances, poesia, ensaios sobre literatura e poética (com tudo o que isso acarreta de político também) do que propriamente política internacional (a não ser reportagens, que gosto muito ler). Mas, agora, que descobri os prazeres dos intervalos em autocarros, escolho sempre uns livros pequenos para transportar na bolsa – sempre a abarrotar de blocos, gravador, cassetes, canetas, óculos de sol, de ver, lenços, comida, garrafas de água, telemóvel, e não sei mais o que cabe lá dentro. Pequenos livros (os mais grossos e pesados ficam na mesinha de cabeceira) que vou lendo naqueles deliciosos cinco a dez minutos de espera nas paragens... Desde que mudei de casa, há cerca de 15 dias, já li pelo menos 3 ou 4 livros no autocarro. São fininhos, é certo, mas os que li foram escolhas certeiras – Triunfo dos Porcos, Ninguém escreve ao coronel, e Uma ideia de Europa. Este último, de George Steiner, constitui, aliás, uma excepção ao que disse em cima relativamente aos meus gostos literários. Trata-se de um ensaio sobre a Europa que se consome de um só fôlego, simultaneamente teórico e poético, escrito de uma forma incrível, com ideias simples e surpreendentes. Diferenças entre o ser-se europeu e o ser-se americano nas quais nunca havia pensado e que fazem realmente sentido. Neste momento, não tenho aqui o livro, mas assim que puder transcreverei algumas passagens. (Dos outros não seria de esperar pouco, claro – Garcia Marquez é um dos meus autores preferidos e de George Orwell só posso dizer que tanto o Triunfo dos Porcos como o 1984 estão entre os meus livros de eleição). Impressionante no livro de Sartre é a forma como os discursos se mantêm, como a História é cíclica. O livro data de 1969, inclui duas entrevistas e outros tantos documentos históricos, e está assinado, no início, pela minha mãe (Manuela Silva – 76). Também ela, quando estava na faculdade em Lisboa, o leu no autocarro. A minha realidade está longe de ser igual à que a minha mãe viveu nessa altura, mas não deixa de ser curioso como as teorias se mantêm, ao longo dos tempos. Todo o discurso de Sartre fala da hegemonia dos EUA, de imperialismo e, claro – ainda que neste livro de forma mais ou menos implícita – do vazio das sociedades de consumo. É incrível, passaram 30 anos desde que a minha mãe leu o livro e nós continuamos a debitar as mesmas tretas ou ideais – depende da perspectiva - nas conversas de café. Há imensas coisas no livro que são obviamente muito datadas - nas entrevistas, tudo gira em torno do Maio de 68, da guerra do Vietname, mas... ainda assim... parece que nada mudou. Parece que, e citando o Il Gattopardo (Luchino Visconti), “é preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma”.
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