terça-feira, julho 25, 2006

Às vezes penso que se, hoje em dia, quiser escrever alguma coisa que mereça mesmo a pena viver terei inevitavelmente que me confrontar com um certo vazio que está nas ruas, nos cafés, nas caras dos mais novos, nos prédios, nas casas, nas relações que não são relações, nos empregos em que se trabalha a mais, no consumo, nos escapes que podem chamar-se Spa, cabeleireiro ou uma qualquer sala de cinema. Exceptuando os que só passam por estes sítios amiúde, os restantes são, objectivamente, indivíduos que não sabem o que fazer com o tempo livre que não seja virá-lo para dentro, esperar que aquelas horas passem rapidamente e acordar no dia seguinte e voltar a fugir até que um dia acordamos e somos velhos. Terei que me confrontar com este vazio, dizia eu. Um vazio que se esconde dentro dos computadores e das expressões dos rostos que estão à frente, ou atrás, deles. E confesso que não sei bem até que ponto vai este vazio e até que ponto toma conta da vida das pessoas. Faço parte desta realidade e não sei verdadeiramente desligar-me dela. Dependo do email e do telemóvel. Dependo do computador e da internet. As minhas tentativas passam por dar uma utilização mais profissional a estes meios do que propriamente afectiva. Tento usar o email e o messenger para trabalhar e não para fazer amigos ou procurar carinho, até porque não encontro consolação nenhuma num estúpido smile que não fala com os olhos. Faço parte de uma geração fronteiriça que está agarrada ao amor dos filmes e dos livros e a uma certa linguagem corporal muito poética, mas comunica por messenger. Por mim, bato com a porta - se isto fosse de alguma forma possível. Já me pediram em casamento por mensagem, já me perguntaram se queria fazer amor através do messenger (?), já me pediram em namoro por email – convites que obviamente declinei - já me zanguei, já fiz as pazes por messenger. Já me cansei, por fim. O que me preocupa nem é tanto aquela coisa do tanta comunicação e tão perto e ao mesmo tempo tão longe e as pessoas distanciam-se em vez de se aproximarem e blá blá blá... O que realmente me faz falta é outra coisa. Faz-me falta a falta que nos fazem as pessoas. Já nem sabemos quase o que é ter saudades. No mais fundo da palavra. Uma vez, em Roma, fui jantar fora com dois amigos, quase meus familiares. No fim, disseram-me que lhes apetecia andar e eu sugeri, então, que fossemos a pé para casa, porque não era longe, embora a rua fosse muito escura. Um deles ficou radiante e disse que gostava de andar por ruas assim à noite, porque raramente se sente a noite nas cidades, de tão iluminadas que são. Que raramente ia ao campo e que, quando ia, a coisa em que mais reparava era na noite, tão cerrada e escura. Também não posso sair da cidade nem cortar totalmente a luz, mas vou à procura da noite, pela rua mais escura, até casa.

2 comentários:

Che disse...

Já imaginaste o efeito da tua boca num coração em Tóquio? Ficava por Madrid,ou pelo Prado, ou pela noite a degustar uma cerveza na movida perto das Portas del Sol. Às vezes só é preciso o olhar límpido do outro para podermos alumiar com as candeias da alma todas as ruas escuras onde ameaça o lodo dos dias sem luz. Haja sol! Com uns lábios assim engurgitados é difícil as noites não serem de fogueiras em estampidas alegrias.

Anónimo disse...

meus caros.. o sol nao existe sem a escuridão.. é na noite que a aventura tem as margens que merece!

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