sexta-feira, agosto 04, 2006

a rua tornou-se vento quente. do fundo do meu coração em bico só sinto nada. espeta-se em mim como tortura lenta, faca que asfixia. peço cócegas no rosto a quem passa, porque gosto de sorrir e disfarçar o que penso. nada. e o tempo vai passando, fingindo-se em dias. escrevo. escrevo-te. para te sentir, não te sentindo assim. para não (te) sentir saudades. é o menos ambíguo que sei dizer. já nem fazer as malas me apetece, mesmo que me pedissem para fugir. já nada me apetece. nem o vento quente da rua. não acredito em quase nada, escrevo “em nada”. para te sentir, não te sentindo assim. para não (te) sentir saudades. é o menos ambíguo que sei dizer. mas a rua tornou-se vento quente, por estes dias. é a solidão a chegar às cidades, disfarçada de amor. do fundo do meu coração em bico, talvez dor. nada. e o tempo vai passando, fingindo-se em dias. escrevo. apenas. para (não) te sentir. há muito tempo que digo, que digo que digo. e repito. nada. e o tempo vai passando, fingindo-se em dias. escrevo. escrevo-te. para te sentir, não te sentindo assim. para não (te) sentir saudades. é o menos ambíguo que sei dizer. Já nem fazer as malas me apetece, mesmo que me pedissem para fugir. só um pequeno cansaço nos dedos, na ponta dos dedos. talvez me apetecesse o silêncio, de tudo. menos o teu. o da tua boca redonda. Acabaram de se enganar e pediram-me ajuda. É a única coisa real neste texto. Tinha uma pronúncia estranha, a senhora, e não lia livros, não via filmes, não sabia nada. Tive que dizer que não era eu, porque era verdade. Pediu-me mil vezes desculpa, ela disse mil vezes, e desligou o telefone. Fiquei feliz por um momento. Não a vi, mas era feia, bem mais feia do que eu. Podes falar, agora. Diz.

4 comentários:

Che disse...

Ainda esta manhã acordei de um sonho em que navegava numa nave cósmica a desbravar mundos ausentes, recolhendo significados no espaço sideral como uma gota simples.
Toda a vida estive à espera de receber um convite inusitado de uma malabarista das palavras.
Respiro fundo e fico atónito...na mancha do neon sei que a ideia foi disparada pela tua boca (imagino o teu olhar ..) em todas as direcções, quando o siroco teimava em ressecar as peles despidas.
Propunha a fuga para um refúgio à beira rio para, como guerreiros da palavra, termos água suficiente para alimentar todas as essências que vierem à tona.
Só assim os sorrisos borbulham soltos nas costas dos nossos lábios.

Anónimo disse...

:) Gostei bastante do texto. Poderia dizer q nos estamos a tornar em pequenos narcisos insatisfeitos e vazios entre a multidão e a massificação das cidades. Como diria o outro, vamos fazer o favor a nós mesmos de sermos felizes, seja lá o que isso for. Beijo bella*

Che disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Che disse...

A ausência das tuas palavras bebíveis só pode ser justificada pelo sol que agora lambe a tua pele. Bem haja a pele de uma Musa Escriba. :)

Arquivo do blogue