Esta semana fui duas vezes ao ginásio. Agora já só me falta deixar de fumar para arranjar uma personalidade nova. Nunca fui muito organizada, nunca soube gerir o meu tempo, e sempre fui (in)feliz assim – gosto dos meus defeitos, pelo menos mais do que das minhas qualidades. Estas novas formas de vida - sair do trabalho e ir a correr para o ginásio - deprimem-me mais do que a minha vida antiga. Os meus cigarros, as minhas caminhadas a pé, as minhas manhãs tardias e preguiçosas, os cafés à semana… Mas não pode ser. Decido então organizar-me e ser mais saudável. E estou a conseguir, tentando adaptar-me aos meus desejos contraditórios, querendo o que não quero e não querendo o que quero. Esta semana até já acordei às 7h30 e às oito da manhã por mim e, pior, sem sono. Tristezas à parte, o ginásio foi uma surpresa. Um dos professores, o que orienta a parte das máquinas, escreve livros religiosos e lê a bíblia enquanto nos vai indicando quantos minutos fazemos de bicicleta ou de tapete… Nós estávamos ali, equipadas, a suar em cima daqueles aparelhos, e ele à nossa frente a falar de Jesus, da vida de Jesus, da importância de nos amarmos
domingo, novembro 05, 2006
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7 comentários:
Esses ginásios da cidade que nao envelhece é um submundo mt à frente. Ao contrario, em outra hd metropoles, as pessoas já nem falam em Jesus já nem falam em nada, orientam-se como robots ensonados protegidos do mundo dos outros pelo suor do corpo...
o texto é (mais ou menos)irónico. apetece-me sempre fugir quando imagino que ele pode vir outra vez falar de Jesus durante mais de hora e meia. mas não deixo de sorrir sempre que penso no cenário que, de tão inapropriado, se torna, no mínimo, caricato.
Fez- me rir também agora esta descrição que fizeste do ginásio. Identifico-me tanto com esta questão dos desejos contraditórios. Custa-me, de certa forma, ter finalmente cedido às tantas opinioes que me diziam que devia enfiar-me num ginasio e fazer exercicio. Que iria ver como é bom, como é relaxante. Como se a vida para quem nao anda num ginasio nao faça qualquer sentido. Também só la fui ainda 3 vezes. É verdade que nao me senti mal e pode ser que ainda venha a sentir algum prazer naquilo. E apesar de ter cedido, continuo a dizer que assim que o tempo estiver melhor venho pedalar para o ar livre. Acho tudo aquilo contra-natura e que faz parte duma idealização estética. E que se nao andássemos a procura dela seriamos mais felizes. E no entanto eu fui la parar. E no entanto, até fui capaz de deixar de fumar, embora sinta uma saudade bem grande de um cigarro em certos momentos.
E rio-me, também, quando me lembro da sra que me fez festas no braço da 1ª vez em que fui ao ginasio, como se eu fosse uma criança assustada. E do sr. que, nos momentos em que pedalamos ofegantes nas bicicletas, se senta, com ar pensativo, de bíblia na mao, e faz sublinhados. Pelo ginásio estão fotografias dele a exibir o seu corpo musculado em competições.
Noquitos
Olá Ana! Não tens escrito no blogue. Tenho saudades de te ler, gosto tanto do que escreves.
ginásios quase igrejas da fé dos corpos. Cativa-me um padre-atleta, mas preferia que suasse o choupal ou vale-de-canas. Diz-lhe que aí jesus aparece mais vezes, criador, pai nosso, da terra, das arvores, dos bichos, do rio, dos cheiros, das sombras, dos frios das chuvas, da noite que escurece o outono...
Faz-se jus a esse mundo moderno que prefere o shopping à mercearia, o carro ao bus, o mail à carta.
Altéres de hóstias, canadás de portugal.
Sábado, basket na brotero? Saltamos a rede...2 contra 2 só faltam 2. Se trouxeres o padre falta 1. Virá jesus? Ok estamos 4 estou lá às 4. Ou talvez antes, que agora anoitece cedo...
g
Quando vieres cá passar um fim-de-semana, vamos correr para o Choupal?
preferia ir ver que tal está o Müller e se recuperou das feridas.
entre herbários e constelações qualquer programa é bom.
Não pára de crescer a erva sobre a fronteira.
A erva deve ser arrancada
De novo e de novo que cresce sobre a fronteira.
Heiner Müller
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