Aos meus (já não) leitores, me confesso.
Alguns amigos e amigas têm vindo a queixar-se, e com muita razão, de que não escrevo nada no blogue. “Sempre que lá vou, está na mesma, que saudades do teu blogue antigo!”. É maravilhoso ouvir isto, confesso. Perdoem-me, mas saber que alguém tem saudades daquele chorrilho de banalidades é algo que me deixa espantada, feliz e corada. Queria voltar a ter a mesma energia para escrever, todos os dias, como fazia no meu diário anterior, mas acontece que, por estas bandas, a vida até tem corrido de feição e, por isso, nada de escrita. Sou um pouco como aquelas pessoas bipolares que só conseguem produzir nos momentos de tristeza. Sim, durante o período em que escrevia no outro Caro Diário, passava por uma fase afectiva algo angustiante, à qual se seguiu uma outra de relativa euforia e, agora, eis que chega a tranquilidade e com ela apenas mantenho o pequeno vício de fumar à noite na varanda. Tudo o resto é brisa, meia doce, meia marítima, ao sabor da qual vou vivendo estes dias amenos que toda a gente tem podido sentir.
De novidades, nada, a não ser que tenho vindo a transformar-me progressivamente numa pessoa normal, porque (um) o meu pai me trouxe um ipod da China, o que me faz sentir integrada e moderna; (dois) ando mais uma vez num ginásio e ainda não desisti; e (três) já vi o Corrupção. Adoptei mais uma gata, um pequeno gnomo branco que parece um pedaço de nuvem tresloucada. Chama-se Lolita, mas come como se fosse o Obelix. Não me liga nenhuma e escolheu, como dono, um monstro preto do mais cavalheiro que há, o Fellini.
Enfim, hoje senti vontade de escrever isto tudo quando, à saída de um trabalho, me sentei nas escadas de um dos departamentos do Pólo II da Universidade de Coimbra, mais uma vez a fumar um cigarro e a ouvir Air. Nada de especial até aqui, não fosse a luz que descia sobre a escadaria naquele momento e o estar ali sozinha a pensar em nada que não fosse pura contemplação, sem qualquer paisagem deslumbrante à frente, mas com uma sensação branda de respirar da qual já nem me lembrava que existia. Engoli um cappucino, em copo de plástico, e pensei: “Tenho que me sentar a escrever, nem que seja para ter a certeza, de uma vez por todas, de que não tenho absolutamente nada para contar e de que existe a séria possibilidade de andar mais feliz por isso”.
3 comentários:
Siiiiiiim!!! Fico MUITO feliz por saber que estás feliz... e numa fase tranquila! Mas, sem querer ser egoísta, tenho saudades de ler os teus textos. Tenho saudades das reportagens croatas do teu blog anterior... apreciadas por conhecidos e desconhecidos! ;) Maria: volta, Estás perdoada!
Beijinhos
RAQUEL, minha fiel leitora, muito obrigada por ainda apareceres por cá.
um grande beijinho
É bom voltar a escrever.
Nunca vais recuperar todas as coisas que tinhas dentro de ti e querias escrever e, por alguma razão, não escreveste. É esse o drama.
Enviar um comentário