Há duas coisas deliciosas no Algarve: um perfume intenso de que desconheço a origem e o pôr-do-sol. Este ano, juntei a estas duas realidades amenas uma música especial de Boris Vian e, àquela hora salpicada de cor-de-laranja mágico, empoleiro-me na varanda do meu quarto e fico assim: com os últimos raios do dia a baterem-me na cara e os olhos pousados no mar. Acendo um cigarro e deixo-me ficar, só à espera que chegue o meu amor. Vou deitá-lo ao mar, lamber-lhe o sal e as feridas, esperar que o sol nos espreguice e faça festas com pés molhados. Tudo o resto é pouco interessante quando comparado com o que o meu amor me vai trazer quando chegar: um sorriso e uma pele para beijar. Já li os livros quase todos, já vi os filmes, já saboreei as bebidas, e até já escrevi os poemas. Já fiz tudo, mas sem o meu amor tudo isso é ausência. Nas obras dos mestres não consigo cheirá-lo. O meu amor tem um cheiro e uma saliva de que se esqueceram de falar no cinema. Amanhã posso voltar a tocar-lhes. São deuses: a areia, a noite, o vento, o azul do oceano, as rochas, o horizonte recortado, e o meu amor. Estendido e abraçado a mim. E a poesia nasce desse barulho que, no Verão, da chuva se faz onda. Vai e vem, vai e vem, vai e vem.
sexta-feira, agosto 25, 2006
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2 comentários:
Muito bonito!!! Ou melhor, nao é bonito, é apaixonante. Por o bonito muitas vezes não provoca paixão mas a inércia da contemplação. Aí está, gostei mesmo desta descrição. Quase que dava para escrever um livro a partir daqui!Beijo***
Benditas as tuas palavras que transpoem essas cores, sabores e fragrâncias do meu ecran para a minha pele. Quando degustei-as (ainda sabem-me a uma mistura de água de coco e manga e sol na pele; o do fim da tarde que vem em paleta de mil cores) vi-te pintada por Gauguin na varanda do teu quarto com aquele sol que só tu sabes dar luz, os teus olhos brilhantes poisados no horizonte e um vermelho ibiscus nos teus cabelos. Avé Maria ;)
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