“Só o acaso pode ser interpretado como uma mensagem. O que acontece por necessidade, o que já era esperado e se repete todos os dias é perfeitamente mudo. Só o acaso fala. Nele é que deve tentar-se ler, como as ciganas fazem com as figuras deixadas no fundo de uma chávena pela borra de café. (...) O acaso tem destes sortilégios, a necessidade, não. Para um amor se tornar inesquecível é preciso que, desde o primeiro momento, os acasos se reúnam nele como os pássaros nos ombros de São Francisco de Assis.”
Milan Kundera, A Insustentável leveza do ser
Milan Kundera, A Insustentável leveza do ser
5 comentários:
Tomás... Este livro é brilhante.. mas tb dizia uma coisa mt bonita: "O amor pode nascer de uma metáfora, ou por outras palavras, o amor começa no preciso instante em que com uma das suas palavras a mulher se inscreve na nossa memória poética" ;)
sim, essa passagem é lindísssima.
Um dia, em discussão com um amigo sobre a possibilidade de o amor se conseguir ou não definir, ele relembrou-me esta passagem e convenceu-me. É uma aproximação àquilo que sentimos ser o amor.
"o amor começa no preciso instante em que com uma das suas palavras a mulher se inscreve na nossa memória poética"
esse livro é realmente mui lindo! perfeito! :)
Giro se pensarmos que as coisas têm sempre realmente esse pedaço de "acaso" de décimo setimo elemento, que nos dá o "algo mais", a "missing part" que completa o puzzle, ou que pelo menos lhe confere uma imagem mais consistente. Buh...
Pode ser que uma das suas palavras se inscreva na nossa memória poética e nasça o amor...e o que dizer das expressões da carne, das "palavras" dos gestos e da pele, do olhar de loucura que redimensiona os nossos instantes? A "Insustentável leveza do Ser" moldou-me ainda eu divagava nas minhas ilhas antes de partir pelo mar, pelo ar. Mas o fascínio essencial veio da sua leveza na soltura consciente. E porque não a poesia da inseparabilidade das palavras na pele? Há paixão sem substracto? Platão pelas minhas contas era um fervoroso seguidor de Ônan. :)
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