quinta-feira, janeiro 10, 2008

Quantas coisas devem ser levadas a sério?

Espanta-me que os meus amigos e amigas ainda me levem tão a sério ao ponto de, depois de lerem o post abaixo, se preocuparem com a minha saúde psíquica. Primeiro ponto que interessa esclarecer: a minha saúde psíquica nunca foi boa; segundo ponto, o que eu digo deve ser levado pouco a sério. Eu própria não me levo muito a sério. É uma filosofia de vida, uma convicção.

Chegou, então, a hora de dizer a todos que não, não é verdade que todos os não-fumadores sejam totós. Há não-fumadores que eu amo, como a minha mãe (que é mesmo fundamentalista e eu adoro-a na mesma e foi muito por causa dela que deixei de fumar, só para a fazer feliz) e o meu namorado, que muito me tem ajudado nesta luta.

Aquilo que eu realmente penso e sinto é que não era preciso haver uma lei tão restritiva para as duas partes se entenderem. Há muitas atitudes que são, apenas, uma questão de boa-educação, como sair de uma mesa de jantar para fumar em vez de deitar o fumo para cima do vizinho ao lado.

Depois, acho que há uma imensa má-vontade da parte dos não-fumadores em expulsar os que fumam para a rua, à chuva, ao vento. Parece-me incrível que em vários aeroportos gigantes não existam salas com a mínima dignidade para quem quer fumar. De repente, os fumadores tornaram-se os responsáveis pela saúde do planeta.

Eu não tenho carro e ando mais vezes a pé e de autocarro do que a maior parte das pessoas que conheço. Quando vou a Guimarães, Porto, Lisboa, seja onde for, vou de Expresso, de comboio... Poluo muito menos o ambiente. Por que não se obriga toda a gente a fazer o mesmo? A minha saúde também está a ser prejudicada com o fumo dos carros quando ando a pé! Com que direito?

E é isto que eu acho uma hipocrisia por parte de quem não fuma, mas pega no carro para ir para todo o lado, como a minha mãe que eu adoro. É possível amar uma pessoa e discordar dela em muita coisa, ou não? Nestas paranóias higienistas, eu e a minha mãe, por exemplo, não podíamos estar mais desencontradas. A minha mãe diz que eu fumo só para me armar em intelectual e eu digo-lhe que sem “pecados” a vida não faz sentido. Barafustamos, mas não nos zangamos. E, se calhar, temos as duas razão.

Mas é por ouvir falar tão mal das atitudes dos fumadores que me apetece defendê-los e dizer que são mais interessantes e isto e aquilo.

Agora, ninguém me pode censurar por achar o cigarro um objecto atraente, por achar o fumo em geral poético, como o nevoeiro, por exemplo. Ninguém me pode censurar por isso. Ou pode?

E também ninguém me pode censurar por achar que uma vida sem mácula é menos interessante. Ou será que pode? Eu quero ser saudável, porque gosto muito de viver e quero ficar cá muitos anos, mas interrogo-me muitas vezes sobre o sentido de tudo isto.


Que merda de sociedade é esta em que a imagem das pessoas é cada vez mais importante, onde as rugas devem ser apagadas a todo o custo, onde os ginásios servem para esculpir corpos de deuses e não de gente, onde o ar deve ser como o de um hospital, onde os velhos prazeres da gula são proibidos? Que sentido tem isto? É só nisto que penso e, ainda que respeite que muitas pessoas sejam felizes assim, nessa vida tão luminosa e asséptica, tenho o direito de não a querer para mim e de a achar desinteressante... Ou não?

4 comentários:

Anónimo disse...

Que texto tão totó... Jás tás apanhada, amiga. Volta a fumar enquanto é tempo.

MJ disse...

Eh ehe ehe ehe... Não digas essas coisas porque te arriscas a ser atirada das escadas pelo não-fumador que está ao teu lado!

Anónimo disse...

heheheheh? Isto é muito a sério, maria. Estás diferente. Arrepia caminho. Enquanto podes.

MJ disse...

vocês vão-me levar à loucura!

a quem faço queixa? à ASAE ?

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